Religião, preconceito, ignorância e o Lúcifer de Sertãozinho.
- agorasimfudeu
- 18 de jan. de 2015
- 3 min de leitura

Em minhas "garimpagens" pela internet, eis que me deparei com o Blog de um famoso líder religioso, de uma famosa instituição religiosa. Obviamente, não citarei os nomes. Mas, acredito que a maioria dos leitores reconhecerão de imediato a quem me refiro. A instituição mencionada é uma denominação protestante famosa por se utilizar da liberdade religiosa e da liberdade de expressão a fim de promover o preconceito e o ódio a outras religiões. Como o tema está sendo bem explorado nos últimos dias, acredito que valha a pena expor algumas questões interessantes.
O título do artigo era:"Tributo a lúcifer". O autor, que me pareceu ser um pastor informando a seu superior hierárquico sobre seu macabro achado, enfatizou a necessidade do empreendimento contra as forças do mal que, bem definiu como: "partir pra cima do Diabo". A justificativa para essa cruzada se dá devido ao fato de que em uma pequena cidade a 330 km de São Paulo, Sertãozinho, uma placa entronizada na praça principal prestava homenagens ao temido Senhor das Trevas, Lúcifer. O que me espantou, logo de início, foi a acentuação gráfica errônea da placa, uma rasura no texto que parecia proposital e citações bíblicas positivas em antagonismo com a má fama da supostal entidade malígna homenageada.
Tomado pela curiosidade passei a ler com mais esmero o conteúdo da placa e concluí o que já a muito tempo acreditava: quando somamos religião, preconceito e ignorância, temos como resultado o fanatismo da pior qualidade.
A placa, na verdade, refere-se a um lucífero, com acentuação tônica na letra "i". Que segundo o dicionário da língua portuguesa significa: o que emite luz ou fogo. Na prática, um queimador de velas ou como é conhecido mais popularmente: veleiro. Do tipo que se encontra próximo a cemitérios ou a templos católicos para acendimento de velas dos fiéis devotos. De fato, a explicação também está descrita na placa. Mas, o ignóbil religioso sequer se deu ao trabalho de ler todo o texto. Armado de toda falta de cultura, ódio, preconceito e incitando a segregação e o inconformismo, o autor da "denúncia" ainda menciona de forma subliminar o responsável pela louvação ao Belzebú. Diz ele: "Se observarmos a foto da placa, é possível pereceber o reflexo da Babilônia em frente. Pra deixar claro quem foi que a fez". A alusão a Babilônia feita é ao reflexo da paróquia católica Nossa Senhora de Aparecida, que se encontra de frente a praça. Ainda reforça:"Não foi construída com o dinheiro dela (Igreja Católica) essa porcaria (a placa). Mas, com o dinheiro do imposto que pagamos", numa clara tentativa de revoltar os leitores com inverdades absurdas e maquiavélicas.
É perceptível, ainda, que a proposital rasura da letra "o" da palavra lucífero, na placa, tem como intenção confundir algum incauto sobre o verdadeiro significado da palavra grafada.
O "mal entendido" proposto pelo pastor pode ser fruto de sua mediocridade intelectual ou, o que considero ainda pior, de seu péssimo caráter e do seu "quase criminoso" preconceito. Ambas as conotações o desqualificariam como líder religioso e formador de opinião. O pior é que todo esse besteirol está publicado no blog do famoso bispo, que, por conclusão, apoia toda essa "latrinagem" religiosa.
Alguns podem me questionar: Você não deveria respeitar a opinião do religioso que publicou esse texto? ou mesmo dos demais religiosos que coadunam com essa opinião? Minha resposta é simples: NÃO. Não alimento o menor respeito por esses párias inconsequentes que acreditam ser os donos da verdade. Não respeito quem crê somente na própria verdade e menospreza e segrega todos os demais. Não respeito os que ditam regras morais e condenam abertamente em canais de televisão, rádio, internet ou mesmo em praça pública os que não se submetem à suas hipócritas e perniciosas normas. Não respeito os que em nome de Deus intitulam todas as demais opiniões de "ações de Satanás". E, principalmente, não respeito os que não me respeitam e ainda por cima, posam de "perseguidos e injuriados pela causa do Cristo".
Vivemos em pleno século XXI. Acredito que não exista mais espaço em nossa sociedade para esse tipo de religiosidade medieval. Em função disso, me considero um militante, um ativista da causa humanista. Toda forma de superstição, fanatismo e intolerância são por mim execradas e repudiadas. Manifesto-me como intolerante às causas e consequências de toda intolerância ideológica e religiosa. É chegado o tempo em que: Ou a religião perde seu caráter belicoso e intransigente e se insere na sociedade pacífica, tolerante e multicultural moderna, ou deverá ser expurgada. Tomemos sobre nossos ombros essa empreitada. Marchemos juntos, todos que compreendemos a verdadeira essência do respeito a individualidade, da democracia e da liberdade. Religiosos ou não.
Beto Campos.
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