top of page

Dia do Soldado. Dia do Feirante

  • André Messias
  • 26 de ago. de 2015
  • 2 min de leitura

Tenho a honra de ser casado com uma professora de educação infantil. Com isso acabo participando dos seus inúmeros trabalhos extraclasse. Dentre eles, recentemente, ajudei (na verdade, mais acompanhei do que ajudei) na confecção de roupinhas para os alunos comemorarem o dia do soldado. De fato, ficaram lindos os uniformes verde oliva. Mas, não pude me furtar a uma indagação que nem minha própria esposa soube responder: E no dia do Gari, vocês também fazem uniformezinhos laranjas? Pode parecer brincadeira, mas vocês já se questionaram por que no dia do açougueiro ou do bombeiro, do cabeleireiro, da empregada doméstica, ou do médico, as crianças não saem vestidas como esses profissionais? Acaso não são eles também profissionais respeitáveis dignos de homenagens?


Antes desejo parabenizar os militares do Brasil pelo dia dedicado à profissão de soldado. Nutro imensa estima pelos que se dedicam a sua profissão honestamente. Tenho certeza que a grande maioria dos militares se encaixa nesse perfil. Porém, parabenizo os militares com a mesma efusividade que parabenizo o feirante, que coincidentemente, tem seu dia comemorado hoje, vinte e cinco de agosto. Porque não comemoramos sua data? Acaso é uma profissão inferior à do soldado? Seria o feirante menos digno? Eu diria que em nosso país o feirante exerce função mais ativa que os militares, em geral. Aquartelados como monges, restringindo-se às ritualísticas ordens unidas e a subordinação de uma hierarquia de castas, sem nenhum propósito aparente. Aguardando que se cumpra a profecia que reza que quando surgir o grande momento, os militares brasileiros surgirão cobertos em glória para defender a soberania de sua amada pátria.


Não sugiro, com isso, que os militares compõe uma categoria inútil para a sociedade. Ao contrário. Como os salva-vidas (que também não tem seu dia comemorado) é melhor que ele esteja em prontidão do que em ação. Só não consigo enxergar o motivo da idolatria à categoria. Na verdade até enxergo. Mas não quero aceitar. O que vejo é um ranço da ditadura. Onde o propósito era que as crianças crescessem admirando os militares. Nutrindo por eles verdadeiro respeito e devoção. Tendo-os como o suprassumo da perfeição social e moral. Desculpem os militares, mas eu os vejo como profissionais. Tão relevantes e dignos quanto os feirantes. A grande honra em ser soldado é a mesma honra que dignifica o feirante. A honestidade e o zelo pela profissão. Se o objetivo é uma homenagem saudosista à ditadura, não posso apoiá-lo. E diria mais. Faço coro com Geraldo Vandré no trecho da obra Pra não dizer que não falei das flores: “Há soldados armados/ Amados ou não/ Quase todos perdidos/De armas na mão/Nos quartéis lhes ensinam/Uma antiga lição/De morrer pela pátria/E viver sem razão”.


E viva o dia do soldado e viva o dia do feirante.



 
 
 

Comments


"AGORASIMFU . . . "

Somos todos Um

© 2014 by André Messias, Gleidson Monteiro e Hilson Figueiredo

bottom of page