A marcha dos Jumentos
- Frederico Anjos
- 20 de ago. de 2015
- 4 min de leitura

Com o devido respeito aos quadrúpedes que tão bem servem ao homem como animais de trabalho, quero batizar o movimento do dia 16 de agosto como:"A marcha dos Jumentos".
Antes que algum leitor (ou algum jumento) sinta-se ofendido com este título, quero esclarecer que respeito o direito constitucional da livre manifestação de opinião pública por meio de passeatas. Considero o evento do último domingo legítimo e democrático. Tenho conhecimento também de muitos cidadãos esclarecidos, bem informados e bem intencionados que participaram ou compactuaram com a passeata do dia 16. A esses meus sinceros respeitos. Porém, convenhamos, esses compuseram uma irrisória minoria.
Um festival circense é o que acompanhei no último domingo. O chamado movimento "Fora Dilma" tem em seu slogan a verdadeira imaturidade esperada de uma multidão de néscios embalados pelos carros de som da micareta política. A chamada elite burguesa branca, mesmo tendo a sua disposição as melhores escolas privadas, não conseguiu se dar o mínimo de cultura política e conhecimento social. Será que alguém ainda tem a empáfia de acreditar que toda a corrupção,desonestidade, incapacidade de gestão e politicagem é privilégio de um único grupo político? Alguém é tão ingênuo de acreditar que retirando o malogrado grupelho do poder estaremos livres e desimpedidos para sermos o tão ansiado "país do futuro" preconizado pelo ufanista (estrangeiro) Stefan Zweig? Infelizmente a resposta é sim.
Entre uniforme da seleção brasileira (A mesma seleção que jogou na copa do mundo no Brasil e a qual os mesmos jumentos foram contra), frases de efeito (sem efeito),um boneco gigante de péssimo gosto, religiosos orando pela intervenção militar e cartazes manuscritos que serviram, e ainda servem, de munição para os humoristas de plantão da internet, estavam os heróis da democracia. Dezenas de virais rechearam internet com as opiniões mais idiotas e boçais por parte de alguns manifestantes. De coreografias ridículas a roupas camufladas em alusão aos militares, todos com um mesmo ideal: "retirar o PT do poder", a grande ameaça comunista! Isso não é uma piada! Mas quando questionados sobre a consequência natural de um impeachment (o que fazer depois?) os posicionamentos foram os mais esdrúxulos, dementes e alienados o possível. Alguns pediam em nome da liberdade o fim da democracia. Outros clamavam por Eduardo Cunha, o honesto, como presidente! O mesmo Cunha que responde, pelo menos, a vinte e dois processos, incluindo crimes de sonegação de impostos, uso de documentos falsos e manipulação de licitações. Outros entronizavam o ilibado ex candidato a presidência da república Aécio Neves. O Aécio do helicóptero com 450 kg de cocaína. Você lembra? Os "manifesjegues" não lembram. Alguém lembra do desvio de 14,2 bilhões da saúde de Minas Gerais na gestão Aécio/Anastasia (PSDB), motivo, ainda hoje, de ação por parte do MPF? Os Aecetes com certeza não.
Talvez você pense que sou um ávido defensor do governo vigente. Asseguro que não o sou. Sinto-me ultrajado ao assistir os desmandos e as pedaladas de gestão do PT. Mas um sentimento democrático inunda meu coração e um senso de consciência crítica me leva a não querer cantar em coro com os acéfalos que em uma procissão alegre ao estilo carnaval fora de época promovem a escalada dos usurpadores que aguardam ávidos, sua vez na fila pelo poder.
Apesar de militar contra o PT, interessantemente, tenho visto movimentações por parte do "satânico" governo petista que me "boquiabertaram". O próprio PT, principal alvo de acusações sobre envolvimento em beneficiamento financeiro de licitações com empreiteiras, se posicionou a favor do fim do financiamento privado de campanhas políticas. Enquanto os guardiões da idoneidade e da lisura foram contra. A lei da terceirização, que fortaleceria e aumentaria o poder e a influência das empreiteiras em detrimento dos direitos trabalhistas foi combatida pela bancada petista. Mas, apoiada pelos baluartes da honestidade e fiéis defensores do povo (PMDB, PSDB e companhia).
E a recessão? A inflação? A alta do dólar? O aumento dos juros? Isso não é motivo suficiente para requerer uma ferrenha intervenção militar? Juridicamente não. Seria difícil tentar explicar todos os meandros da dinâmica econômica do processo que desembocaram nesses resultados indesejáveis. Muitos deles por incapacidade/má fé do atual governo. Outros por interferência externa à nossa economia
Porém, deve-se analisar os atuais fatos políticos e econômicos dentro de uma ótica holística. Compreender o quanto avançamos em equidade social nos últimos anos. o quanto aumentamos os investimento em saúde e educação (nem sempre os repasses federais foram bem utilizados pelos governos estaduais e municipais). Prefiro esquivar-me de explanar tecnicamente todos os detalhes do cenário político e econômico atual. Até porque: Os que são contra o "golpe do impeachment" já sabem. Os que são a favor, sequer me ouviriam. E, os micareteiros a favor da intervenção constitucional militar, pelo fim da grande vilã, a democracia, não teriam condições intelectuais para compreender.
Diante da recessão e do fantasma do desemprego que nos ronda eu sugiro: Continuemos protestando e batendo panelas. Até porque a Tramontina e a Rochedo, que empregam muitos funcionários, precisam manter suas linhas de produção abastecendo o mercado.
















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